sexta-feira, 18 de julho de 2008

Começar é sempre um desafio.

Pensei que já tinha feito muitas coisas e descoberto o suficiente sobre tantas outras. Só que ainda me apareceu uma novidade que me serviu de alento e alegria. Há vinte e dois anos, num armarinho pequenino, peguei duas agulhas e fui aprender a tricotar depois de ter um stress violento que me deixou em estado letárgico por dois meses. Eu tinha acabado de fazer dezoito anos, vitoriosa no vestibular e, em pânico. Uma senhora de alvos cabelos e paciência incrível me ensinou a montar os pontos na agulha e eu escolhi um modelo que já vai perdido em minha memória. Comprei fios e mais um par de agulhas e comecei. Só sabia fazer ponto meia torcido, pois achava mais fácil fiz a parte das costas da minha primeira malha. Nunca terminei. A vida foi passando, faculdade, namoro, casamento. Retomei meus poucos pontos para tentar fazer um colete para meu marido. A lã era verde e bonita. Não ficou grande coisa, mas ele usava como se fosse um prêmio. Então fiquei grávida. Tentei novamente, com lãs e agulhas, ocupar minha mente que sempre parecia não pertencer ao lugar onde eu estava. Fiz alguns sapatinhos e até coloquei-os nos pezinhos rosados e fofos da minha primogênita. E larguei totalmente tudo que tivesse a ver com tricô.
O tempo passou mais um tanto. Tive outros dois filhos. Algumas venturas e desventuras comuns na vida de todo mundo. Outras batalhas. Perdi algumas e venci outras. Já era órfã de pai desde os oito anos e aos vinte e seis eu perdi minha mãe por conta de um câncer de mama.
Faz muitos anos que sou eu e meu marido e meus filhos e mais ninguém. Meu marido também não tem os pais vivos, apesar de estarmos ambos na faixa dos quarenta anos.
Uma depressão pesada e fiquei bons dois anos vivendo em estado estranho. Até que, mexendo em guardados antigos, estavam lá. Minhas antigas e velhas e empoeiradas lãs. O preço em uma moeda que para muitos é totalmente desconhecida. Em cruzados ainda! Fiscal do Sarney... Eu ainda lembro bem disso. Lá no fundo da minha mente, eu me vi, tão jovem, tricotando num banquinho num velho armarinho que sequer existe mais.
Não sei o que houve. Apenas peguei as velhas agulhas vermelhas e meus poucos fios de lã e chorei...
Será que ainda sabia dar pontos? Não era bem o tricô que me importava. Era me lembrar do que eu podia fazer, de tantas experiências e aprendizados.
Saí para um armarinho e comprei lãs, dessas novas. Peguei novas agulhas, agora as usam tão grossas, e tentei... Acreditam que ainda sabia por os pontos na agulha? Um cachecol... Diziam que era o mais fácil para fazer e eu tentei. Peguei uma receita num lugar qualquer, num folheto desses de loja de lãs e linhas e fui fazendo. Ainda sabia fazer o velho ponto torcido em meia. Só que me lembrei que havia outros jeitos e fui tentando.
O cachecol fino e cheio de erros saiu. Cor de rosa para minha caçulinha de cinco anos. E ela amou! Fiquei tão feliz por sentir-me útil quando fatos da minha vida me fizeram acreditar que aos quarenta anos eu já era velha demais ou inútil demais para tanta coisa...
Vasculhei a internet buscando informações. Achei as aulinhas de tricô da Regina e foi minha salvação. Revi alguns pontos e aprendi mais outros. Arremate, aumento, diminuição, laçada. Encantei-me novamente. E saí para comprar mais lã e mais agulhas.
Descobri os blogs e encantei-me com vários. Vi tantas experiências bonitas, tanta gente que sonhava e que tecia. E aqui estou. Ainda não tenho fotos, mal sei mexer numa câmera digital, mas trabalhinhos, tenho alguns. Adoro misturar fios e bolar receitas do nada. Espero que eu possa ajudar alguém, assim como vários blogs me ajudaram. Essa é a pequena história do meu coração de tricô. Espero que apreciem.

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